Foto: Renan Mattos (Diário)
Comerciantes querem o estacionamento de volta
Desde o dia 25 de março não é possível estacionar na 2ª quadra da Rua Doutor Bozano, quando iniciaram as intervenções do projeto Re.Viva Bozano, pela prefeitura, e pouco mais de um mês depois, os lojistas do local reclamam da mudança e pedem a volta do estacionamento rotativo. Na noite de segunda-feira, um grupo de empresários da quadra fez uma reunião para debater a queda no movimento e nas vendas, que eles alegam ser de até 50%.
O administrador da Padaria Concórdia, Gabriel Andres, diz que a mudança "matou o movimento" pela metade e descreve a situação de insustentável. Ele lembra do caso de cliente que pagou R$ 16 no estacionamento privado para fazer um lanche na padaria, que custou R$ 14.
- Fiquei me questionando: até quando nossos clientes vão se prontificar a pagar estacionamento para virem comer aqui? Esses R$ 16 ela poderia ter gasto em outra coisa. Está muito complicado - descreve Andres.
A gerente da Óticas Diniz, Ariane Gai, também acha que a falta de estacionamento vá levar os clientes para outros lugares, como os shoppings. Ela diz que a diferença no movimento é significativa, cerca de 50% menor, e relata que o parklet, em frente à Eny Infanto-juvenil, é usado para aglomeração de adolescentes, que deixam muito lixo no local e no entorno do espaço de convivência.
Enquanto estava na 2ª Quadra, na manhã de ontem, o Diário presenciou que os jovens comiam sorvetes e jogavam os copos e colheres plásticas na rua ou no chão do parklet. A reportagem também percebeu que o fluxo geral de pedestres foi fraco e os vendedores das lojas ficavam mais próximos às portas dos estabelecimentos, no aguardo de clientes, que eram poucos.
O Diário conversou e também falou com seis lojistas, em que os estabelecimentos são na 3ª quadra da Bozano, nas ruas Floriano Peixoto e Serafim Valandro, e no Calçadão. Todos dizem que não registraram alteração no movimento desde a intervenção na 2ª Quadra.
Governo Federal corta bolsas de pesquisa pelo país
CEDO PARA AVALIAR
A coordenadora de Comunicação e Marketing da Eny Calçados, Marilice Daronco, diz que é cedo para avaliar os impactos da intervenção do Re.Viva Bozano no movimento da loja Infanto-Juvenil, que fica na 2ª Quadra. Ela comenta que a direção da Eny entende que obras costumam trazer transtornos, sejam eles na rua em frente ao estabelecimento ou nos arredores. Além disso, Marilice diz que, para o setor de calçados, é um momento complicado, pois deveria estar frio e o calor dos últimos dias acaba afetando as vendas.
A Eny Calçados custeou o parklet que foi instalado na 2ª quadra, em frente à loja. O valor do investimento foi de R$ 32 mil.
AS OPINIÕES QUE DE QUEM TRABALHA NA 2ª QUADRA
"As vendas baixaram bastante. Se eu disser que foi uma média de 50%, não vou estar mentindo. A proprietária da loja foi na reunião de segunda-feira e disse que foi falado bastante coisa para levar isso à prefeitura, para ver se conseguimos tirar essas coisas daí. Onde está a melhoria aí? Onde estão os bancos para as pessoas sentarem? Pintura no chão e uns vasos não são atrativos. E ainda tiraram o estacionamento. Prejudicou tanto as lojas quanto as pessoas que querem vir para o Centro."
Marcia Ferreira, vendedora da Candel'Art
"Abrimos a loja em metade de dezembro e notamos que caiu o movimento. Acho que, em média, uns 30%, ou até mais. Acredito que foram várias coisas que resultaram nessa queda. O pessoal está com pouco dinheiro, mas não sei se foi uma coincidência. Quando falaram que iam fazer algo para os pedestres aqui na frente da loja, imaginei uma coisa bem diferente. Achei que fosse ser algo bonito. Assim, do jeito que está, não ficou bom. Talvez se fosse algo mais atrativo atrairia mais pessoas a circularem aqui."
Taiane Viero Batista, farmacêutica da Mais Viva Pharma
"Domingo é o dia que mais sentimos a diferença. Nesse dia, caiu o movimento uns 50%. O pessoal não tem mais onde estacionar para vir aqui almoçar, e o domingo é o nosso segundo melhor dia em movimento. O primeiro é o sábado. Ali era o nosso estacionamento e, sem isso, nós, provavelmente, vamos ter que fechar aos domingos. E o que vai acontecer nesse caso? Vou ter que demitir 5 ou 6 funcionários."
Neri Chiesa, um dos proprietários do Restaurante Center Grill
Governo federal corta bolsas de pesquisa pelo país
O QUE PENSAM OS PEDESTRES
"Ouço muitas passarem por aqui reclamando sobre a falta de vagas. Já ouvi que as vendas estão caindo, prova disso é que algumas lojas já fecharam. Há movimento, mas não gostei das mudanças. Quem quer estacionar não tem opção, não faz sentido. Trabalho aqui e diria que a maioria das pessoas que passa por aqui reclama e acha feio essas floreiras e esses coloridos mal feitos."
Alex Ziegler, porteiro, 46 anos
"Acho que não foi uma boa essa diminuição de vagas. Apesar de aumentar o espaço para o pessoal transitando, não vejo o pessoal transitar. Não gostei. Não está surtindo bom efeito."
Everaldo Bitencourt, corretor de imóveis, 47 anos
"Ficou horrível. As vagas para estacionamento fazem falta. Sei que prejudica muita gente. O parklet é bonito, mas não temos mentalidade para isso. Já vi atos de vandalismo. As plantas não vão durar. Há muitas mais coisas a serem feitas na cidade."
Anelise Bassotto, aposentada, 61 anos
"Não temos educação para manter isso aqui e está atrapalhando o estacionamento. Se esperar mais tempo para voltar como era antes, muitas lojas vão fechar as portas."
Maria Leni Balbé, aposentada, 62 anos
"Não gostei. Foi prejudicial. Afeta no comércio. A diminuição de vagas para estacionar em uma das principais vias de acesso complicou. Por mim, voltava a ser como era antes."
Odinei Kieling, autônomo, 36 anos
"Nosso trânsito é complicado e com esses canteiros ficou pior ainda. A Bozano é uma das rotas que liga o centro aos bairros. Já era ruim o fluxo e, além disso, as cores usadas foram ruins. Se tivéssemos bares ao longo do trecho, tudo bem, mas são lojas comerciais, não combinou. Não ficou bacana."
João Breda, técnico de infraestrutura de rede, 30 anos
"Até gostei, mas acho que as preocupações da prefeitura poderiam ser outras. Primeiro, poderiam consertar os buracos das ruas, para depois se preocupar em fechar essa quadra. O Calçadão está pavoroso, por exemplo. Fizeram obra e continua feio. Achei que, como estavam mexendo, iriam consertar as lajotas, mas nada disso. As prioridades deveriam ser outras em nossa cidade."
Maria do Carmo Oliveira, dona de casa, 69 anos
"Não ficou legal. O estacionamento é pouco, prefiro como era antes. Era bem mais produtivo."
Oliver Oliveira, estudante, 26 anos
"Não gostei, pelo fato de que a prefeitura poderia se preocupar com algo relacionado à educação, em vez de retirar vagas de estacionamento num local importante da cidade. O dinheiro para as obras que estão sendo feitas aqui poderia ser usado em outras áreas. As mudanças feitas aqui não têm utilidade nenhuma. Deveriam se preocupar com saúde, educação, pagamento de professores. Não entendi, porque já tem o Calçadão para o pessoal poder sentar e se reunir."
Suelen Trindade, estudante, 21 anos
"Não gostei, porque prejudica todo mundo que está trabalhando aqui. As pessoas estacionavam os carros, pagavam parquímetro. Isso está complicando a vida de muita gente. O que se ganha com essa mudança? Tem lojistas que estão se obrigando a demitir funcionários ou até fechando as portas."
Joaquim Lito, comerciante, 77 anos
"Não gostei, porque tirou vagas para estacionar em um local importante, e já são poucas as vagas disponíveis aqui no Centro. Essa retirada de espaços para estacionar é ruim para o comércio. Não foi favorável."
Aline Santos, farmacêutica
"Eu adorei. Passo aqui com frequência, umas duas ou três vezes por semana. Achei bem interessante o jeito que ficou. Achei que aqui ser transformado em um segundo Calçadão, só para fluxo de pedestres. Já há tempo eu vinha pensando nisso. Achei que facilitaria para as lojas com mais gente caminhando do que carros passando. Mas como pedestre e cliente, acho bom ter mais espaço para caminhar por aqui. Lamento que esteja ruim para os lojistas porque eles também precisam que dê certo."
Leonir Segala, 61, corretora
Franquia do Giraffas vai abrir em Santa Maria e gerar 14 empregos
O QUE DIZ A PREFEITURA
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Inovação, Ewerton Falk, diz que está atento às críticas dos lojistas e da população, lembrando que o Re.Viva Bozano é um projeto previsto no Plano Diretor de Mobilidade Urbana e que foi implementado de forma a ser revertido, caso seja necessário. Contudo, ele descreve que é preciso ser feita uma ampla avaliação sobre os impactos a médio e longo prazo para a cidade.
Falk lembra que uma reunião está marcada entre a prefeitura e os lojistas da 2ª Quadra para o dia 28 de maio.
Mesmo com as reclamações dos empresários que chegaram ao conhecimento do secretário, o titular da pasta reforça que é preciso pensar no futuro da cidade e acredita que o tempo é muito curto para uma avaliação geral da intervenção.
- Uma coisa que me preocupa muito é quando uma empresa me diz "essa semana vou ter que demitir", "vou ter que fechar". Quem tem seu negócio alicerçado em uma semana de faturamento não tem que se preocupar com a rua, tem que revisar o seu negócio, por que alguma coisa está errada. Tu não podes ter uma empresa sustentada pelo faturamento de um dia. É muita fragilidade de argumentação - opina o secretário.
Falk diz que entende que o desemprego é um problema real, e reforça que ele tem muito respeito pelo tema, porém, repete que é preciso rever o planejamento a médio e longo prazo, ou as ações do Executivo não resultam em desenvolvimento, apenas em crescimento.
Ele lembra que a cidade tem um shopping em amadurecimento e outro em processo de expansão, além disso, cita a vinda de uma loja grande com estrutura de shopping, a Havan, que vai se instalar em uma área deslocada do Centro. Por isso, ele acha importante voltar os olhos para a área central, para fazer com que o desenvolvimento ocorra de forma uniforme em Santa Maria.